Quem assiste a um evento esportivo hoje não consegue escapar da publicidade das casas de apostas. O investimento das plataformas online é o mais significativo para o futebol brasileiro no momento — para times e canais que fazem a transmissão dos jogos.
O cenário, que vem apenas crescendo desde a pandemia, terá uma mudança relevante em 2025. Com a entrada em vigor das leis que regulamentam as apostas esportivas, as empresas do setor passarão a ter mais obrigações dentro do país. O que isso pode representar para o futebol e outros esportes no Brasil?
Legalização e regulamentação das apostas esportivas
O processo de legalização das apostas esportivas começou em dezembro de 2018, quando o então presidente Michel Temer sancionou a Lei 13.756/18. A nova legislação dava um prazo de dois anos para que o governo editasse todas as normas que iriam regulamentar a atividade no país.
Sem apoio de governo ou congressistas, no entanto, o prazo caducou sem nenhum avanço na regulamentação. Isto permitiu que as casas de apostas expandissem seus negócios no país sem nenhuma contrapartida ou mesmo apoio jurídico para a atividade.
A mudança presidencial em 2023 e a busca por mais recursos para o governo reacendeu a discussão no Congresso Nacional. Em dezembro de 2023, cinco anos após a legislação inicial, a Lei 14.790/23 foi aprovada, entrando em vigor a partir de 2024.
Desde então, o Ministério da Fazenda tem sido responsável por criar as normas e condições para as casas de apostas que desejam se instalar no país. As empresas interessadas devem se aplicar para obter a licença de operação — apenas as plataformas autorizadas poderão explorar o mercado brasileiro a partir de 1º de janeiro de 2025.
Investimentos dos sites de apostas em 2024
Este ano, portanto, acabou se tornando um ano de transição entre o cenário de quase “vale tudo” em que as casas de apostas operaram desde 2019 e o mercado totalmente regulado previsto para 2025. Com isso, o que vimos foi um crescimento dos investimentos dos sites de apostas em 2024.
Apenas na Série A, os patrocínios das bets existentes no primeiro semestre somaram quase R$ 500 milhões. Entre os 40 times das duas primeiras divisões, somente Palmeiras e Cuiabá não têm acordos com uma empresa de apostas esportivas no time masculino — após ter patrocínio rompido com a Vai de Bet, o Corinthians fechou com a Esportes da Sorte no final de julho.
Outros acordos também evidenciam o quanto os sites de apostas investiram no esporte brasileiro. A Casa de Aposta pagará R$ 52 milhões pelos naming rights da Arena Fonte Nova pelos próximos quatro anos, além de R$ 6 milhões para a Arena das Dunas. Ainda no terreno dos naming rights, a Betano comprou os direitos para o Brasileirão — em 2023, já tinha feito o mesmo com a Copa do Brasil.
Perspectiva para o setor em 2025
A alta dos investimentos tem a ver com disputa por espaço no mercado. Cada casa de apostas deseja abocanhar uma fatia maior dos usuários antes da consolidação que deve ocorrer após a entrada em vigor da nova regulação. Ao menos esta é a perspectiva para o setor em 2025, quando é esperado que as plataformas com menor participação deixem o país.
“A regulamentação exclui as empresas menos preparadas, sem estrutura de marketing robustas, que não fazem processo de branding (gestão de marca) pensando em longo prazo”, afirma Marcos Sabiá, CEO da Galera.bet, uma das empresas que já entrou com pedido de autorização para operar a partir do próximo ano.
Ao mesmo tempo, a menor concorrência implica em mudança de prioridades para as marcas — até mesmo com possível diminuição de valores investidos. Quem não aproveitou a bonança para fechar um contrato valioso com um site de apostas pode ficar com as mãos abanando.
“A regulamentação tende a afastar muitas empresas, por conta de uma série de exigências e do valor da outorga. Quando o mercado ficar menor, a tendência é que o dinheiro a ser colocado em publicidade seja reduzido. Os clubes, atletas, mídias, todos devem se preparar para isso. Desde meados do ano passado, já se conversa sobre isso” analisa Rodrigo Capelo, colunista do GLOBO e especialista em negócios do esporte.